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Colheita de material para exames microbiológicos: fatores interferentes
O diagnóstico etiológico de um processo infeccioso muitas vezes pode ser de difícil obtenção e uma das principais finalidades dos testes laboratoriais é auxiliar o raciocínio médico veterinário após a obtenção da história clínica e a realização do exame físico. Para tanto, todas as fases de execução dos testes, sobretudo a pré-analítica, devem ser conduzidas seguindo o rigor técnico necessário para garantir a segurança do paciente e resultados exatos. Segundo a literatura científica, a fase pré-analítica, que se refere à colheita do material até o envio ao laboratório, concentra a maior parte dos equívocos que podem gerar resultados não consistentes com o quadro clínico do paciente. Estima-se que problemas nessa etapa sejam responsáveis por cerca de 70% dos erros ocorridos nos laboratórios.
Entre os fatores que podem comprometer a eficácia do exame microbiológico estão: informação incompleta, requisição inadequada, coleta e transporte inadequados da amostra clínica. A definição do material a ser colhido cabe ao clínico responsável e depende principalmente da suspeita clínica, histórico e do tipo de exame a ser realizado. A determinação do melhor sítio, evitando ao máximo a contaminação por agentes da microbiota residente, e a escolha do melhor momento clínico para a obtenção da amostra são importantes para a acurácia dos testes. O material deve ser colhido do local onde haja maior probabilidade de se isolar o microrganismo, evitando-se o desperdício com amostras não representativas do processo infeccioso.
A suspeita do potencial agente etiológico influencia na escolha do melhor método de colheita e meio de transporte específico.
O profissional responsável pela colheita deve estar ciente da importância da antissepsia no momento da obtenção da amostra, principalmente quando se tratam de aspirados de abscesso, material de biópsia, líquor, urina, sangue e aspirado profundo de feridas abertas. Também deve estar ciente de todos os materiais utilizados, além de possuir conhecimento sobre a técnica de colheita mais adequada. Por isso é essencial que se tenha uma boa comunicação com o laboratório de destino ou observar as orientações fornecidas pelo laboratório, a fim de receber a orientação correta para cada tipo de exame.
A colheita deve sempre ser realizada previamente à introdução de terapia antimicrobiana ou de sua alteração, pois estas interferem na viabilidade das bactérias para a cultura microbiológica.
O volume de amostra também pode interferir na sensibilidade dos testes microbiológicos e deve ser suficiente para a execução dos diversos procedimentos solicitados. Amostras insuficientes podem levar a resultados falso-negativos.
O acondicionamento é uma etapa fundamental para a manutenção da qualidade das amostras, evitando a deterioração do material, quebra ou vazamentos dos frascos, rotulagem e requisições visíveis. Cada material biológico deve ser acondicionado conforme o tipo de exame solicitado. Para a maioria dos exames microbiológicos, o ideal é acondicionar sob refrigeração (entre 2 e 8°C). Para alguns exames as amostras devem ser mantidas em temperatura ambiente, já que a refrigeração ou congelamento pode provocar alterações indesejáveis e inviabilizar a realização do exame. Nunca refrigerar amostras de líquor, amostras genitais, oculares ou da orelha interna. Destaca-se que para a realização de alguns exames é necessário que o material seja protegido da luz. É fundamental que sejam utilizados frascos estéreis, com ou sem meio de transporte, devidamente tampados, para evitar contaminação e vazamentos. A identificação correta da amostra, assim como o sítio de origem e a suspeita clínica são informações importantes que devem constar na requisição para que o microbiologista clínico possa executar os procedimentos recomendados e utilizar os meios de cultura adequados. A identificação do frasco de coleta nunca deve estar na tampa ou sobre rótulos.
A rapidez no transporte das amostras microbiológicas, assim como na semeadura e execução dos procedimentos microbiológicos, é fundamental para a manutenção da viabilidade dos microrganismos. Algumas bactérias são especialmente sensíveis às condições ambientais, como Shigella, Haemophilus, Streptococcus e anaeróbios.
O treinamento específico e reciclagem periódica da equipe responsável pela coleta das amostras microbiológicas devem ser incentivados.
Deve-se lembrar que toda amostra clínica é potencialmente infectante e deve ser manuseada com cuidado, utilizando-se os equipamentos de proteção individual (EPI) preconizados.