Ultimamente existe uma tendência no mercado pet para os chamados alimentos caseiros ou naturais em oposição às rações industrializadas. Os tutores acabam optando por esse tipo de alimentação muitas vezes por acreditar que é mais saudável para o animal do que rações industrializadas ou porque é mais agradável ao paladar, contudo, ambas as opções têm suas vantagens e desvantagens, por isso é necessário conhecer um pouco mais sobre o assunto antes de fazer sua escolha.
Na medicina veterinária existe uma área específica chamada “nutrição animal” que, através de longos anos de estudo, busca conhecer cada vez mais as necessidades nutricionais dos animais para proporcionar a formulação de alimentos que atendam às exigências de cada espécie, em cada etapa de sua vida.
Os alimentos industrializados para animais domésticos possuem diversas formulações, de modo a atender às necessidades nutricionais dos pets, cães ou gatos, de diferentes raças, na fase de filhote ou adulto, e às vezes com necessidades específicas, como é o caso de rações terapêuticas para emagrecimento ou tratamento de doenças.
Os alimentos industrializados evoluíram muito nas últimas décadas, são bastante completos e garantem a diversidade de nutrientes e o balanceamento que os animais precisam, além da praticidade para os tutores. Os principais tipos de pet food encontrados atualmente no mercado são as rações secas, rações semi-úmidas e rações úmidas (ou enlatadas). A principal diferença entre elas é o conteúdo de umidade.
As rações secas para animais de estimação contêm entre 6 e 10% de umidade e 90% ou mais de matéria seca. São vendidas sob a forma de pedaços triturados, biscoitos, farinhas e pellets expandidos e extrusados. A ração seca possui vantagens como baixo custo; administração prática; boa formação das fezes, com pouco cheiro; promove brilho aos pelos e ajuda na prevenção do tártaro devido à mastigação. Além disso, devido a seu baixo conteúdo de água, evita a formação de mofos e ataques por microrganismos patogênicos e sofre poucas alterações após a abertura da embalagem, desde que mantida em locais secos e ventilados.
As dietas úmidas não estão mais disponíveis somente em latas, essas também são comercializadas em bandejas de plásticos, recipientes de alumínio, potes de plástico e sacos plásticos. Todos esses produtos têm uma variação de umidade de 72 a 85%. As dietas enlatadas podem ser “completas e balanceadas” ou planejadas para o uso como alimentação suplementar. Nem todas as rações úmidas são completas e balanceadas, muitas são desenvolvidas para uso somente como alimentação suplementar, como petiscos ou para deixar mais saborosas as rações secas. Possuem como principais vantagens a alta durabilidade do produto, quando mantido fechado, e melhor palatabilidade, quando comparadas às rações secas. Como desvantagens é possível citar: custo elevado, transporte e armazenamento difíceis e necessidade de refrigeração após abertura da lata, devido à suscetibilidade a ataques por fungos e bactérias em decorrência da alta umidade do produto.
As rações semi-úmidas representam uma pequena, porém, significante porção do mercado de alimentos industrializados. Requerem a utilização de umectantes e acidificantes para controlar o conteúdo de água e inibir o crescimento de mofos. Além disso, possuem um baixo conteúdo de fibras e quantidade relativamente alta de açúcar, tornando-as muito palatáveis, porém nem sempre ideais, principalmente em dietas para perda de peso baseadas em fibras. Apresentam conteúdo intermediário de umidade (25 a 35%), contudo, essa umidade torna o produto mais susceptível a crescimento de mofos e bactérias, além da deterioração da textura, o que torna necessário a adição de inibidores destes inconvenientes. Ainda, os alimentos industrializados podem ser classificados como: Econômicos, Padrão ou Standard, Premium e Super Premium. As diferenças envolvem a qualidade dos ingredientes utilizados e o rigor do controle de produção, sendo que as rações Super Premium são produtos de alta qualidade, com formulação fixa e ingredientes de elevado valor nutricional.
O interesse atual sobre novas alternativas alimentares para cães e gatos, em detrimento a rações comerciais convencionais, teve inicio devido a um grande recall ocorrido nos Estados Unidos entre março e abril de 2007. Nesta data a empresa canadense Menu Foods, a maior fabricante de rações da América do Norte, anunciou que retiraria do mercado 60 milhões de enlatados para animais devido à contaminação do glúten por melanina, o que levou à morte de 16 animais com falência renal e hepática e outros com sintomas de perda de apetite, vômitos e apatia, devido à intoxicação.
Diante de problemas de segurança alimentar e da preocupação com alimentos de qualidade que atendessem as necessidades nutricionais dos animais de companhia, começaram a surgir no mercado produtos diferenciados com o apelo de “naturais”, contudo, o Dr. Aulus Cavalieri Carciofi, doutor pela Universidade de São Paulo e professor da Unesp de Jaboticabal, considerado o principal especialista no Brasil em pesquisa de nutrição animal defende a ração: “Não tem sentido a ideia de que o alimento industrializado é prejudicial aos Pets”. Aulus critica o “achômetro” na área: “Não só não há evidência da relação do uso de ração, ou seja de alimentos processados, com câncer em animais como é o contrário. Os animais têm vivido mais e as rações são mais nutritivas. A porcentagem de cães e gatos idosos hoje é muito maior. Aparece câncer, mas muito mais associado à própria idade dos cães, ou outros fatores, e não relacionado à alimentação industrializada à base de ração”. Para o doutor em nutrição é preciso olhar para o tempo nesta temática: “Antigamente, os cães, por exemplo, morriam de doenças simples, por desnutrição e outras causas. E nem dava tempo de ter câncer, porque morria com pouco mais de cinco anos. A ração atende aos requisitos de nutrição balanceada e vem suplementada. Não há razão para associar doenças com ração. O estilo de vida, a longevidade e fatores genéticos e do ambiente interferem na saúde do homem e dos animais (...). Nos animais, a ração é fator positivo e ajudou o cão a viver mais. O desconhecimento e o ‘achismo’ atrapalham tudo”.
Mundialmente, o número de marcas de dietas naturais comerciais prontas para o consumo é crescente, com formulações cada vez mais sofisticadas e específicas. Deve-se atentar que, se as necessidades orgânicas dos nutrientes (proteínas, lipídios, cálcio, fósforo, fibras, vitaminas e oligoelementos), exigidas para cada animal, nas diferentes etapas da vida, não forem respeitadas, pode haver comprometimento de sua saúde.
Numerosos novos nichos estão ascendendo a posições privilegiadas no mercado PET global: alimento fresco resfriado, alimento cru, alimentos orgânicos; cru; orgânico; livre de grãos (grain free); ingredientes com padrão de qualidade humano; natural; ingredientes exóticos; “superpremium”; “ultrapremium”; refeições caseiras enriquecidas com suplementos; dietas a base de carne (carne-centric) e a base de proteínas (protein focused), além de dietas de nicho como: saúde da pele e pelo, saúde intestinal, saúde bucal, saúde do trato urinário, animais senis, animais atletas, treinamento de filhotes, entre outras.
Muitos tutores pensam que ao oferecer “comida caseira” ao seu pet estará fornecendo “alimentação natural”, porém, os dois modelos de dieta são distintos e não devem ser vistos como sinônimos. A grande diferença nesses casos está nos componentes e preparo da refeição. A alimentação natural deve ser balanceada e desenvolvida para fornecer os nutrientes necessários para a saúde do animal, ao contrário do alimento feito em casa, que normalmente é feito sem nenhum estudo prévio. Deve-se considerar diante da vida moderna e da falta de tempo dos tutores que não é fácil manter esse estilo de vida para o pet. Além de precisar comprar os alimentos quase todas as semanas, é preciso prepará-los diariamente. Pensando nisso, o mercado pet desenvolveu dois tipos de serviços de alimentação para ajudar os tutores: as refeições congeladas e as embaladas a vácuo. No primeiro caso basta esperar descongelar e esquentar para o animal comer, já o segundo tipo precisa ser reconstituído com água. Ambos são práticos e fáceis, perfeitas para pessoas ocupadas.
Também já é possível encontrar cursos de culinária animal, que ensinam informações fundamentais sobre nutrição e suplementação, seguindo exatamente as características de cada espécie ou raça. As desvantagens da alimentação natural incluem: tempo de preparo, custo dos ingredientes, necessidade de administrar suplementos vitamínicos e afins, e a dificuldade de conseguir uma mistura equilibrada. As dietas naturais podem ser indicadas para animais obesos ou que apresentam doenças como diabetes, alergias de pele e alimentar, doença renal crônica, cardiopatias, pancreatite, câncer, gastrite, doenças do trato intestinal e urinário. Diante da opção por alimentos naturais disponíveis no mercado, é importante adquiri-los de empresas especializadas, com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Prefira alimentos congelados e embalados a vácuo. Na hora de ser consumido, deve estar sempre cozido, nunca cru. A utilização de alimentos naturais crus não isenta o proprietário quanto a questões de riscos na segurança alimentar. Os riscos de contaminação biológica, com destaque para a salmonelose, toxoplasmose e as verminoses diversas são os pontos fracos das dietas naturais cruas. As matérias-primas utilizadas para a produção dessas dietas podem provir de várias fontes e como elas não sofrem qualquer tipo de tratamento térmico ou esterilização, as bactérias e os parasitas existentes podem estar presentes no momento de consumo do alimento pelos animais.
Por isso, fique de olho antes de escolher qual tipo de alimentação irá oferecer para seu animal de estimação, considere vantagens e desvantagens e tenha preferencialmente o acompanhamento de um médico veterinário nutricionista.
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